sexta-feira, 4 de julho de 2014

Bancada por Messi, Geração Pequim joga pelo fim de trauma da Argentina

Com nove campeões olímpicos na China e melhores amigos do craque, hermanos tentam repetir no profissional sucesso que rendeu sete títulos na base em 19 anos


Um grupo de amigos de longa data em busca do sonho da vida de cada um e, por tabela, de um país sedento pelo fim de um tabu. A seleção argentina que disputa a Copa do Mundo no Brasil é muito mais do que um apanhado dos melhores jogadores do país selecionados por Sabella. É também um grupo que joga junto há muito tempo, que reúne os melhores companheiros de Messi - para muitos, por isso Carlos Tévez foi excluído - e que aposta exatamente neste relacionamento para colocar um ponto final em uma sina: de não repetir no profissional o sucesso avassalador nas categorias de base. Já são 21 anos sem levantar um troféu.

Messi, Romero, Banega (fora da Copa 2014), Di María e Zabaleta foram campeões olímpicos em 2008

A última conquista dos hermanos pela equipe principal aconteceu em 1993, na Copa América do Equador. De lá para cá, a seleção acumula fracassos. Em Copas do Mundo, sequer passou das quartas de final. Até mesmo em campeonatos disputados na América do Sul o rendimento é fraco: apenas duas decisões, e com derrotas traumáticas para o Brasil. Nestas duas décadas, no entanto, não faltaram craques revelados na Argentina. Nas categorias de base, o sucesso é impressionante: cinco títulos de Mundiais Sub-20 e dois ouros olímpicos. Mas ninguém conseguiu repetir o desempenho entre os profissionais. Missão que Messi assumiu ao lado dos companheiros da "Geração Pequim".

Dos 23 convocados por Alejandro Sabella para a Copa do Mundo, nove estiveram entre os 18 que conquistaram o título na China. Oito deles, inclusive, devem ser titulares nas quartas de final com a Bélgica, sábado, em Brasília: Romero, Zabaleta, Garay, Mascherano, Gago, Di María, Messi e Lavezzi. Se for levado em conta que Lucas Biglia estava na lista de espera olímpica, o número geral sobe para dez. E com um pouco mais de boa vontade pode chegar a 12, se incluirmos José Sosa e Ever Banega, também campeões olímpicos e que foram cortados na lista de 26 para o Mundial no Brasil.

O companheirismo é apontado como um dos fatores determinantes para que Sabella formasse este grupo e, principalmente, para que Messi se soltasse e assumisse definitivamente a posição de líder que tem mostrado desde o período de preparação, em Ezeiza. Questionado sobre o que o fez dar mais a cara a tapa neste sentido, Leo foi claro ao dizer que a cumplicidade que tem com a maioria do elenco o deixa mais à vontade.

- Passaram muitos anos. Fui crescendo, amadurecendo dentro e fora do campo. Me encontro em um grupo com muitos amigos, muito bem, temos relação com todos dentro e fora do campo. Estou muito contente.
  
A amizade tem dado frutos com a bola nos pés, o que minimiza qualquer argumento contra todo mimo em torno de Messi. Nas Olimpíadas, por exemplo, oito dos 11 gols marcados pelos hermanos saíram de jogadores que estão no Brasil - levando em conta que um nono foi contra. Messi, Di María, Agüero e Lavezzi marcaram dois cada um. Nas eliminatórias para 2014, a marca não é muito diferente. O ponto discordante é Higuaín, que substitui o Pocho no lugar dos mais importantes para Sabella.

Caso vença a Bélgica no sábado, às 13h (de Brasília), no Estádio Nacional, na Capital Federal, a Geração Pequim já vai alcançar uma marca que nenhum dos antecessores mais recentes conseguiu: avançar às semifinais de uma Copa. Desde o vice-mundial em 1990, na Itália, ainda com Maradona, o máximo que os hermanos chegaram foi nas quartas, em 1998, 2006 e 2010. E apostas para colocarem um ponto final neste tabu não faltaram ao longo dos anos.

Lista com decepções é grande

Sorín, Samuel, Cambiasso, Riquelme, Aimar, Burdisso, Saviola, Romagnoli, D´Alessandro, Ayala, Coloccini, Heinze, Lucho González e Carlos Tévez. Dá mais do que um time a relação de jogadores com sucesso internacional e que estiveram em alguns dos títulos de seleções de base, mas não conseguiram levar a Argentina ao tão esperado tri mundial. Para isso, a AFA (federação argentina) até apostou no principal mentor deles, José Pékerman, e não foi feliz. Tricampeão do mundo sub-20, o atual treinador da Colômbia dirigiu o país no Mundial da Alemanha e também decepcionou.

Cambiasso, Saviola e Tévez, além de Messi e Agüero novinhos na China. Sucesso argentino na base

Em 1995, dois anos depois do título da Copa América e um após o adeus de Maradona, com o doping na Copa dos EUA, a Argentina renovou a esperança em se manter no topo do futebol com o título mundial sub-20. Naquele time, Gastón Coyette, do Lanús, era a grande figura e foi eleito o melhor da competição. O futuro, no entanto, consolidou apenas Juan Pablo Sorín como estrela, mas o ex-lateral do Cruzeiro foi incapaz de levar o país a uma boa campanha em Copas.

Mais dois anos se passaram e a Argentina mais uma vez não deu chance para ninguém na competição de juniores, contando com um trio de muito respeito: Cambiasso, Riquelme e Aimar. Uma das principais esperanças do país, por sua vez, surgiu em 2001, no Mundial Sub-20 disputado na própria Argentina: Javier Saviola. Com 11 gols, o rápido e habilidoso atacante foi o craque e artilheiro da disputa em casa, mas nunca se firmou como profissional. E chances não faltaram, até mesmo no Real Madrid e no Barcelona.

Em 2004, foi a vez dos hermanos conquistarem aquele que é o único título que o Brasil não tem em sua sala de troféus: o dos Jogos Olímpicos. Comandados por Tévez, eles ficaram com o ouro em Atenas. Carlitos, por sua vez, desde então tem sido muito mais carisma do que bola na equipe nacional e, apesar do clamor popular, ficou fora da Copa no Brasil.

A partir de 2005, a história começa a se misturar com a geração atual. Na Copa Sub-20 da Holanda, Messi apareceu para o mundo, foi eleito o craque e chamou a atenção do país onde nasceu, mas que ainda vivia desconfiado do garoto que cresceu na Espanha. Aquele time já tinha outro jovem, chamado de Kun Agüero, que dois anos depois repetiu Messi e foi o melhor jogador da campanha do hexa, no Canadá.

Juntos, em 2008, Messi e Agüero não deram chances para o Brasil de Dunga na semifinal, golearam por 3 a 0, e venceram as Olimpíadas de Pequim graças a um terceiro elemento fundamental para seleção de Sabella: Di María marcou o gol na final com a Nigéria. Desde então, o trio e outros amigos caminham juntos. Na África do Sul, apenas cinco campeões na China foram eleitos por Maradona. Agora, este número praticamente dobrou, e a esperança é grande no sucesso da "Geração Pequim", ou podemos chamar de "Amigos de Messi".

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