Com nove campeões olímpicos na China e melhores amigos do
craque, hermanos tentam repetir no profissional sucesso que rendeu sete títulos
na base em 19 anos
Um grupo de amigos de longa data em busca do sonho da vida
de cada um e, por tabela, de um país sedento pelo fim de um tabu. A seleção
argentina que disputa a Copa do Mundo no Brasil é muito mais do que um apanhado
dos melhores jogadores do país selecionados por Sabella. É também um grupo que
joga junto há muito tempo, que reúne os melhores companheiros de Messi - para
muitos, por isso Carlos Tévez foi excluído - e que aposta exatamente neste
relacionamento para colocar um ponto final em uma sina: de não repetir no
profissional o sucesso avassalador nas categorias de base. Já são 21 anos sem
levantar um troféu.
Messi, Romero, Banega (fora da Copa 2014), Di María e
Zabaleta foram campeões olímpicos em 2008
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A última conquista dos hermanos pela equipe principal
aconteceu em 1993, na Copa América do Equador. De lá para cá, a seleção acumula
fracassos. Em Copas do Mundo, sequer passou das quartas de final. Até mesmo em
campeonatos disputados na América do Sul o rendimento é fraco: apenas duas
decisões, e com derrotas traumáticas para o Brasil. Nestas duas décadas, no
entanto, não faltaram craques revelados na Argentina. Nas categorias de base, o
sucesso é impressionante: cinco títulos de Mundiais Sub-20 e dois ouros
olímpicos. Mas ninguém conseguiu repetir o desempenho entre os profissionais.
Missão que Messi assumiu ao lado dos companheiros da "Geração
Pequim".
Dos 23 convocados por Alejandro Sabella para a Copa do
Mundo, nove estiveram entre os 18 que conquistaram o título na China. Oito
deles, inclusive, devem ser titulares nas quartas de final com a Bélgica,
sábado, em Brasília: Romero, Zabaleta, Garay, Mascherano, Gago, Di María, Messi
e Lavezzi. Se for levado em conta que Lucas Biglia estava na lista de espera
olímpica, o número geral sobe para dez. E com um pouco mais de boa vontade pode
chegar a 12, se incluirmos José Sosa e Ever Banega, também campeões olímpicos e
que foram cortados na lista de 26 para o Mundial no Brasil.
O companheirismo é apontado como um dos fatores
determinantes para que Sabella formasse este grupo e, principalmente, para que
Messi se soltasse e assumisse definitivamente a posição de líder que tem
mostrado desde o período de preparação, em Ezeiza. Questionado sobre o que o
fez dar mais a cara a tapa neste sentido, Leo foi claro ao dizer que a
cumplicidade que tem com a maioria do elenco o deixa mais à vontade.
- Passaram muitos anos. Fui crescendo, amadurecendo dentro e
fora do campo. Me encontro em um grupo com muitos amigos, muito bem, temos
relação com todos dentro e fora do campo. Estou muito contente.
A amizade tem dado frutos com a bola nos pés, o que minimiza
qualquer argumento contra todo mimo em torno de Messi. Nas Olimpíadas, por
exemplo, oito dos 11 gols marcados pelos hermanos saíram de jogadores que estão
no Brasil - levando em conta que um nono foi contra. Messi, Di María, Agüero e
Lavezzi marcaram dois cada um. Nas eliminatórias para 2014, a marca não é muito
diferente. O ponto discordante é Higuaín, que substitui o Pocho no lugar dos
mais importantes para Sabella.
Caso vença a Bélgica no sábado, às 13h (de Brasília), no
Estádio Nacional, na Capital Federal, a Geração Pequim já vai alcançar uma
marca que nenhum dos antecessores mais recentes conseguiu: avançar às
semifinais de uma Copa. Desde o vice-mundial em 1990, na Itália, ainda com
Maradona, o máximo que os hermanos chegaram foi nas quartas, em 1998, 2006 e
2010. E apostas para colocarem um ponto final neste tabu não faltaram ao longo
dos anos.
Lista com decepções é grande
Sorín, Samuel, Cambiasso, Riquelme, Aimar, Burdisso,
Saviola, Romagnoli, D´Alessandro, Ayala, Coloccini, Heinze, Lucho González e
Carlos Tévez. Dá mais do que um time a relação de jogadores com sucesso
internacional e que estiveram em alguns dos títulos de seleções de base, mas
não conseguiram levar a Argentina ao tão esperado tri mundial. Para isso, a AFA
(federação argentina) até apostou no principal mentor deles, José Pékerman, e
não foi feliz. Tricampeão do mundo sub-20, o atual treinador da Colômbia
dirigiu o país no Mundial da Alemanha e também decepcionou.
Cambiasso, Saviola e Tévez, além de Messi e Agüero novinhos
na China. Sucesso argentino na base
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Em 1995, dois anos depois do título da Copa América e um
após o adeus de Maradona, com o doping na Copa dos EUA, a Argentina renovou a
esperança em se manter no topo do futebol com o título mundial sub-20. Naquele
time, Gastón Coyette, do Lanús, era a grande figura e foi eleito o melhor da
competição. O futuro, no entanto, consolidou apenas Juan Pablo Sorín como
estrela, mas o ex-lateral do Cruzeiro foi incapaz de levar o país a uma boa
campanha em Copas.
Mais dois anos se passaram e a Argentina mais uma vez não
deu chance para ninguém na competição de juniores, contando com um trio de
muito respeito: Cambiasso, Riquelme e Aimar. Uma das principais esperanças do
país, por sua vez, surgiu em 2001, no Mundial Sub-20 disputado na própria
Argentina: Javier Saviola. Com 11 gols, o rápido e habilidoso atacante foi o
craque e artilheiro da disputa em casa, mas nunca se firmou como profissional.
E chances não faltaram, até mesmo no Real Madrid e no Barcelona.
Em 2004, foi a vez dos hermanos conquistarem aquele que é o
único título que o Brasil não tem em sua sala de troféus: o dos Jogos
Olímpicos. Comandados por Tévez, eles ficaram com o ouro em Atenas. Carlitos,
por sua vez, desde então tem sido muito mais carisma do que bola na equipe
nacional e, apesar do clamor popular, ficou fora da Copa no Brasil.
A partir de 2005, a história começa a se misturar com a
geração atual. Na Copa Sub-20 da Holanda, Messi apareceu para o mundo, foi
eleito o craque e chamou a atenção do país onde nasceu, mas que ainda vivia
desconfiado do garoto que cresceu na Espanha. Aquele time já tinha outro jovem,
chamado de Kun Agüero, que dois anos depois repetiu Messi e foi o melhor
jogador da campanha do hexa, no Canadá.
Juntos, em 2008, Messi e Agüero não deram chances para o
Brasil de Dunga na semifinal, golearam por 3 a 0, e venceram as Olimpíadas de
Pequim graças a um terceiro elemento fundamental para seleção de Sabella: Di
María marcou o gol na final com a Nigéria. Desde então, o trio e outros amigos
caminham juntos. Na África do Sul, apenas cinco campeões na China foram eleitos
por Maradona. Agora, este número praticamente dobrou, e a esperança é grande no
sucesso da "Geração Pequim", ou podemos chamar de "Amigos de
Messi".
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