Com craque apagado no mata-mata, volante vira símbolo de uma
seleção competitiva e coletiva. Impecável em campo e preciso nas palavras,
lidera hermanos até final
Quando a Argentina se preparava para a Copa do Mundo, ainda
em Buenos Aires, dias antes de seguir para o Brasil, Javier Mascherano encarou
os microfones e disse: "Estamos indo para terras inimigas". Começava
ali um jogo de palavras daquele que se transformou na principal figura da
Argentina que disputa com a Alemanha o título mundial, domingo, às 16h (de
Brasília), no Maracanã. Se Messi tem a genialidade, o poder de decidir em um
lance, é graças a Masche que os argentinos não precisaram do craque diante de
Bélgica e Holanda. Graças a sua postura dentro e fora de campo, que os hermanos
se multiplicaram em outros muitos "Messis" em um jogo coletivo que
pode acabar com um jejum de 24 anos.
A raça do volante argentino é uma das razões da campanha dos
hermanos no Mundial
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A Argentina que chega ao Rio de Janeiro não é a mais a
Argentina de um gênio. É um time altamente competitivo, assim como seu camisa
14. Capitão não de fato, mas de ofício, Mascherano é a figura de liderança do
time de Sabella. É o representante do treinador em campo taticamente, e faz o
mesmo papel muitas vezes no vestiário, com palavras de incentivo, gritos,
cobranças. Com essa postura, incendiou os companheiros ao dizer estar
"cansado de comer m..." antes das quartas de final contra a Bélgica,
e injetou ânimo em Romero ao "profetizar" que o goleiro se
transformaria em herói nas disputa de pênaltis que valeu a vaga na decisão,
diante da Holanda.
Na partida contra a Laranja, por sinal, Mascherano foi,
disparado, o melhor em campo. Correu, marcou, lançou, arrancou ao ataque e,
principalmente, impediu gol de Robben no minuto final do tempo normal em lance
onde disse ter "aberto o ânus". A semifinal foi somente mais um
capítulo de uma Copa perfeita do volante argentino. E os números mostram a
eficiência de Masche com e sem a bolas nos pés. Com 418 passes certos, é o
melhor argentino neste fundamento. Já os 26 desarmes realizados nas seis
partidas o colocam como líder não somente entre os hermanos, mas também do
Mundial. As informações são do site Footstats.
Mascherano é ainda quem mais fez lançamentos corretos no
time de Sabella, com 25, além de ter bloqueado com precisão cinco finalizações
dos adversários. A função defensiva, naturalmente, o coloca como um dos mais
faltosos da Argentina: foram sete infrações e nenhum cartão amarelo, uma a
menos que Garay. Na exibição perfeita diante dos holandeses, no entanto, Javier
passou limpo. Por outro lado, as faltas sofridas chamam mais atenção. Até o
momento, o volante foi parado em 13 ocasiões, atrás somente de Messi, com 16.
O desempenho destacado de Mascherano no Brasil o tem
colocado tão em evidência que torcedores até criaram um #MascheFacts na
internet. São fatos que não são verídicos e contam com bom humor o que
aconteceria se o jogador estivesse presente em situações hipotéticas.
Brincadeiras à parte, o camisa 14 da Argentina tem sido reverenciado em seu
país. Nas ruas de Buenos Aires, seu nome superou o de Messi depois do triunfo
contra a Holanda, e personalidades são unânimes ao comentarem sua importância
para o sucesso no Brasil.
Mascherano incentiva o goleiro Sergio Romero antes dos
pênaltis: "Hoje você se tornará herói"
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- Toda vez que o Robben pegava a bola, tinha no seu pé o
Mascherano. Ele jogou com muita autoridade. Um exemplo dentro de campo se chama
Mascherano, todos jogaram seguindo o seu ritmo - disse Diego Armando Maradona,
maior ídolo do país.
Alejandro Sabella seguiu a mesma linha do ex-camisa 10 e se
rendeu ao volante:
- Mascherano é um baluarte, um ícone, um símbolo - exaltou o
treinador.
Herói da classificação para final após ser acarinhado pelo
companheiro, Sergio Romero definiu a importância de Mascherano para o elenco
argentino. Apesar de ser Messi quem leva a braçadeira de capitão no braço, o
dono do vestiário é Javier, com palavras e atitudes.
- É um líder indiscutível. É um homem que tomou pancadas
cinco ou seis vezes nesta partida e nunca parou. É um leão dentro de campo,
nosso coração. Leo (Messi) é nosso coração para driblar, deixar todos com a
boca aberta, mas Mascherano é nosso coração por sua garra. Graças a Deus, está
do nosso lado.
Recado do chefe:
"A Alemanha não assusta"
A postura de Mascherano no Brasil consolida ainda mais um
apelido que caiu em seu colo antes mesmo de se tornar uma figura tão imponente
para o futebol de seu país: Jefecito (Chefezinho). Revelação do River Plate, o
então jovem foi apontado como substituto natural do ex-volante Leo Astrada e
herdou sua alcunha de Jefe. Uma escolha profética. Em sua terceira Copa, o
jogador vive o momento mais importante de uma história que já leva 104 partidas
com a camisa de seu país.
Mascherano é a alma da Argentina na Copa
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Sparring na decepcionante campanha no Mundial de 2002, na
Coreia e no Japão, Masche estreou na equipe principal em 2003, com somente 19
anos, sob o comando de Marcelo Bielsa. Do empate por 2 a 2 com o Uruguai, em La
Plata, até a decisão da Copa no Brasil, foram 63 vitórias, 26 empates, 15
derrotas e somente três gols. Somente Zanetti e Ayala defenderam a Argentina
mais vezes do que ele. Nenhum dos dois, porém, foi campeão do mundo. E
Mascherano sabe que a chance de domingo será a única que terá para ser.
- O que o destino nos impõe é a final do mundo, é desfrutar
esse dia porque seguramente não vamos voltar a viver, preparar para jogar a
partida mais importante da nossa carreira e sobretudo estar à altura de todas
as circunstâncias. A Alemanha não assusta, mas respeito, jogamos contra eles,
sabemos a classe dos jogadores que tem. Tem que ter respeito.
Respeito, vontade e dedicação. Características da Argentina
neste Mundial. Características de Mascherano, um "chefinho" com ares
de general para invadir terras inimigas e voltar para casa com o símbolo da
vitória. Voltar para casa com a Copa do Mundo. A "Copa de Messi" até
agora tem sido a "Copa de Masche".
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